|
|
Desde abril de 2010, o Cabum! atua em parceria com o InternEx, visando maior disseminação dos conceitos de riscos de explosão nos ambientes industriais e urbanos.
O Cabum! nesta página mostra um resumo em ordem cronológica, dos eventos de explosões na
rede subterrânea de energia elétrica - também conhecidas como "explosões de bueiros". O objetivo não é relacionar todas
as explosões ocorridas, mas apenas ressaltar que o problema existe há um século, ficando patente que suas reais causas nunca foram eliminadas.
Alertamos que entre as datas dos eventos a seguir citados, ocorreram muitos outros.
---------------------------------------------------------------------------
|
|
|
Muitas pessoas acham que as explosões
em bueiros iniciaram em 2010 no Rio de Janeiro,
quando em 29 de junho às 10:30 h um casal
de americanos ficou queimado (ela 80%; ele 30%),
ao atravessar a Rua República do Peru,
em Copacabana. Algumas lembram da sequência
de explosões no bairro do Flamengo em
1984. A própria presidência da
Light declarou que a primeira explosão
foi a ocorrida em 1956, na Rua Fernando Mendes,
em Copacabana...
O Cabum! fez uma pesquisa
que revelou ter havido explosões de bueiros
desde o início do século XX, no
Rio e em outras cidades, o que coloca por terra
não apenas a hipótese que a causa
seria "a rede velha" (já que tivemos
eventos quando a rede era nova), como várias
outras citadas na mídia, uma vez que
ocorreram explosões quando a manutenção
era feita com mão-de-obra própria,
no verão, no inverno, com dias de sol,
com chuva, na época da Light estatal,
da Light privatizada, etc.
E as explosões no Rio de
Janeiro continuam mesmo após supostamente
terem sido concluídos os dois Têrmos
de Ajuste de Conduta (TAC) assinados com o MP-RJ:
pela Light em 06/07/2011 (que tinha a intenção
de modernizar mais de 4.000 câmaras subterrâneas,
o que em tese eliminaria a propalada causa "rede
velha"), e pela CEG em 28/07/2011 (que trocou
vários trechos de suas linhas de gás
por tubulações de polietileno,
eliminando os vazamentos nas "tubulações
velhas de ferro fundido" desta concessionária
de gás). Conheça algumas
das ocorrências também em outros
estados brasileiros.
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 2011.
|
|
|
Em 05/07/2011 a capa do O Globo estampou que a Light havia contratado uma empresa de segurança para investigar a
hipótese de sabotagem em seu sistema, pois "não tinha registro de ocorrências sucessivas como as dos últimos 30 dias", de características
estranhas, "considerando sobretudo as baixas temperaturas desta época do ano". Na pg. 9 a Light informou em nota que estava investindo só na rede subterrânea
"3 vezes mais que em 2010 e cerca de 10 vezes mais que nos anos anteriores".
A ideia de "sabotagem no sistema subterrâneo" já havia sido insinuada pela empresa em 1964 e 1956, e mais uma vez, a suspeita não foi
confirmada.
"Ocorrências sucessivas" de explosões na rede subterrâneas não foram raras, vide abaixo.
A capa do O Globo de 05/07/2011 noticiou:
---------------------------------------------------------------------------
|
|
|
Em 05/10/2000 pela manhã, houve uma explosão em bueiro da Eletropaulo na rua Antonio de Godói, Centro, que levantou ao alto Gisleine Santana, que felizmente foi amparada por seu marido, Márcio Santana.
Ela estava grávida e foi atingida pela tampa do bueiro, tendo sofrido contusão no joelho esquerdo.
A pg. 27 do Estadão de 06/10/2000 noticiou.
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 1992.
|
|
|
Em 07/11/92 por volta das 08:00 h houve uma explosão em dois bueiros da Light nas ruas Gomes Carneiro e Canning, em Ipanema.
Um dos donos da cervejaria Bier Welt disse que o fogo atingiu dois metros de altura. Durante meia hora várias pequenas explosões ocorreram.
Felizmente sem feridos.
A pg. 15 do Globo de 08/11/92 noticiou.
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 1984.
|
|
|
Em 26/08/84 houve uma sequência de explosões. Iniciou-se às 19:15 h com a explosão no bueiro 26.785
na Praia do Flamengo esquina com a Rua Barão do Flamengo; às 19:40 h explodiram as caixas 27.608 e 27.641 na Praia do Flamengo e a 26.638 na Rua Barão
do Flamengo. Como resultado, diversas vidraças quebradas de prédios, porém sem vítimas.
A Light disse que houve defeito nos cabos de 110 e 220 V e como acontece sempre "eles se queimam até se extinguir o defeito". Acrescentou que a
causa do primeiro curto-circuito dificilmente será encontrada "devido à destruição do cabo" mas sabia de antemão que "não
houve sobrecarga no sistema de energia e não possui indícios de que os acidentes tenham sido provocados intencionalmente.".
A Light também disse que a origem do gás poderia ser da CEG (concessionária de gás) ou da Cedae (concessionária de esgoto).
O Globo publicou em 28/08/84 na pg. 13.
---------------------------------------------------------------------------
|
|
|
Em 25/10/79 por volta das 16:00 h houve uma explosão em CT - Câmara Transformadora, na Alameda Santos 960, São Paulo, cuja tampa foi arremessada a mais de 10 metros de altura e caiu sobre a cabeça da menina Ellen Yang, de 3 anos, matando-a instantaneamente.
Os técnicos da Light não souberam determinar as causas do acidente, acreditando que ele tenha sido provocado por defeito em um dos cabos de alta
tensão existentes, e descartaram a hipótese de sobrecarga "porque não houve interrupção de energia elétrica na região".
Hoje sabemos que o sistema network foi projetado exatamente para que o fornecimento de energia não fosse interrompido em caso de defeitos, e desta forma,
parece inconsistente a afirmação que "não houve sobrecarga".
Este foi o terceiro registro de morte imediata após uma explosão de bueiros, mas outras vítimas fatais podem ter existido, especialmente nos
casos de queimaduras extensas, onde o óbito pode ter ocorrido dias depois.
O Estadão publicou em 26/10/79 na pg. 15.
---------------------------------------------------------------------------
|
|
|
Em 29/11/77 às 13:40 h, houve uma explosão em bueiro da Light na Rua Líbero Badaró esquina com Rua Miguel Couto, no Centro, dita como a terceira naquele ano.
A Light não explicou as causas da explosão.
Segundo relatos, inicialmente foram ouvidos pequenos estouros, uma volumosa fumaça saiu do bueiro e em seguida ocorreu forte explosão que expeliu grandes chamas.
Felizmente sem vítimas.
O Estadão publicou em 30/11/77 na pg. 15:
---------------------------------------------------------------------------
|
|
|
Em 26/04/77 por volta das 12:50 h houve uma explosão em bueiro - CT - da Light na Praça Antonio Prado, no Centro, que deixou o advogado José de Oliveira ferido e dois trabalhadores mortos.
Este foi o primeiro registro de mortes imediatamente após uma explosão de bueiro.
As informações prestadas pela Light foram confusas, tendo sido informado que os dois trabalhadores estariam fazendo manutenção na CT de 20.000 V e "teriam puxado um fio de alta tensão, o que teria provocado a explosão".
Segundo relatos, com um barulho "mais alto que um trovão" foram lançados pedaços de concreto ao ar, e chamas até 10 m de altura fizeram com que um pedestre arrancasse suas roupas em chamas.
O Estadão publicou em 27/04/77 na capa e pg. 20 com a chamada "Pânico e caos":
---------------------------------------------------------------------------
|
|
|
Em 16/08/73 por volta das 18:45 h houve uma explosão em bueiro da Light na Ladeira General Carneiro, Centro, que deixou sem luz boa parte da cidade.
Os técnicos da Light não souberam determinar as causas do acidente, acreditando que ele tenha sido provocado por defeito em um dos cabos de alta
tensão existentes, e descartaram a hipótese de sobrecarga "porque não houve interrupção de energia elétrica na região".
Hoje sabemos que o sistema network foi projetado exatamente para que o fornecimento de energia não fosse interrompido em caso de defeitos, e desta forma,
parece inconsistente a afirmação que "não houve sobrecarga".
Felizmente sem vítimas.
O Estadão publicou em 17/08/73 na pg. 42:
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 1964.
|
|
|
Em 07/09/64 houve uma explosão em bueiro na Rua do Riachuelo 169, que provocou queimaduras de
primeiro e segundo grau em Elenice do Vale, de 12 anos.
Populares disseram que a tampa foi projetada a grande distância e vários abandonaram suas casas.
O DOPS - Departamento de Ordem Política e Social - investigaria as causas.
O Globo publicou em 08/09/64 na pg. 3:
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 1956.
|
|
|
Em 10/05/56 a Light declarou-se preocupada com as explosões na rede subterrânea, e ressaltou que em 50 anos
operando no Brasil, a "primeira" tinha sido na Rua Fernando Mendes em 16/03/56, em Copacabana, a "segunda" foi na esquina de Sá Ferreira com Av.
Atlântica em 09/05/56, e a "terceira", ocorreu naquele mesmo dia, na Rua Visconde do Rio Branco, no Centro.
A Light mobilizou uma equipe de técnicos para determinar as causas e não afastou a hipótese de sabotagem, o que poderia requerer a
ajuda da Polícia.
Pelo visto, a empresa "esqueceu" diversos eventos anteriores, como os citados a seguir.
O Globo publicou em 10/05/56 na pg. 6:
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 1956.
|
|
|
Em 09/05/56, de madrugada, explodiu um bueiro da Light na esquina das ruas Sá Ferreira e Av. Atlântica, que
projetou um tampão de 300 quilos na altura do terceiro andar do Hotel Miramar, quebrando suas vidraças do térreo, a parede frontal e as janelas dos
prédios vizinhos. Estilhaços de ferro e cimento subiram mais alto e feriram o hóspede do apt. 504, Louis Sachter.
O Globo publicou em 09/05/56 na pg. 15:
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 1956.
|
|
|
Na madrugada de 16/03/56 houve uma explosão em CT - Câmara Transformadora - na Rua Fernando Mendes em frente ao número 7, em Copacabana, que danificou o revestimento externo do prédio e quebrou vidraças. O carro estacionado em frente ao prédio, um Austin Atlantic de propriedade do sr. Artur Obino, ficou queimado. Segundo relatos, "dois tampões de 750 kg foram lançados a cerca de vinte metros de altura".
O Hotel Excelsior, onde no térreo funcionava uma boate, também teve vidraças quebradas, felizmente sem feridos.
A Light possuía na CT transformadores de 6.000 V e a causa teria sido "o enguiço de um refrigerador, que causou sobreaquecimento e explosão de um motor subterrâneo"?!
A foto mostra o local.
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 1937.
|
|
|
Em 04/04/37 por volta das 14:00 h houve uma explosão no bueiro - CT - localizado na esquina das ruas Vieira Fazenda e Dom
Manoel, no Centro. A "tampa do reservatório foi projectada á distância, os combustores da illuminação publica quebraram-se e a
calçada do predio da Caixa Economica sériamente damnificada".
Ressalte-se que o mesmo bueiro havia explodido dias antes, e a Light havia acabado de concluir os reparos daquela ocorrência.
O Globo publicou em 05/04/37 na pg. 1:
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 1934.
|
|
|
Em 11/01/34 à noite houve uma explosão no bueiro na Av. Mem de Sá 82, Centro, em frente ao botequim do
Sr. José Silva, onde "varias lampadas e uma porta daquelle estabelecimento foram attingidas por estilhaços e ficaram avariadas.".
O Globo publicou em 12/01/34 na pg. 5:
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 1930.
|
|
|
Em 17/01/30 às 13:00 h houve uma explosão no bueiro no canto do Largo do Capim, fronteiro ao cruzamento das
ruas dos Andradas e General Câmara, quando "quatro operarios da empresa canadense, que ali trabalhavam, subiam para a rua, tendo as vestes e a pelle ennegrecidas
pela acção do fogo. Apresentavam, todos, queimaduras e dous delles achavam-se, mesmo, gravemente offendidos".
As vítimas estavam limpando as installações da usina transformadora de voltagem existente, que se communicava com um cabo conductor de
uma força de 6.000 V, quando ouviram violenta explosão, sendo envolvidos pelo fogo e atirados á distancia.
A Light disse não saber a que attribuir a causa do desastroso accidente.
O Globo publicou em 18/01/30 na pg. 3:
---------------------------------------------------------------------------
|
|
:. Rio de Janeiro - 1911.
|
|
|
Em 27/10/11 houve uma explosão no bueiro na Rua dos Arcos, na Lapa, vitimando três empregados da Light.
Fundada em 9/06/04, a The Rio de Janeiro Tramway, Light and Power recebeu autorização governamental para funcionar no Rio de Janeiro em 30/5/05 e
no mesmo ano adquiriu o controle acionário da concessionária de iluminação a gás, a belga Société Anonyme
du Gaz do Rio de Janeiro, serviço que foi controlado pela Light até 1969, quando foi transferido para o governo estadual.
Como vemos, mesmo quando a rede era nova tivemos explosões de bueiros, o que desmente a versão que as explosões são devidas
à idade da rede. O Estado de São Paulo noticiou na primeira página:
---------------------------------------------------------------------------
|
|
|
As reais causas das explosões de bueiros não foram eliminadas, por isto elas continuarão ocorrendo e causando prejuízos a propriedades e pessoas. Pelos fatos e dados compilados ao longo dos anos, entende-se que o projeto adotado pelas concessionárias para suas redes subterrâneas, que não prevê proteção aos
cabos - conhecido como "queima-livre" - foi a mais barata alternativa para se obter elevada continuidade operacional. Porém, por não respeitar os limites de carregamento dos cabos elétricos, compromete a segurança não só dos equipamentos da concessionária, como também das pessoas e das propriedades na superfície.
Uma análise técnica detalhada foi publicada em 05/09/14 na Industry Applications Magazine, no artigo "Explosion risk in underground networks: measures for preventing manhole explosion events", de autoria do especialista em prevenção de explosões eng. Estellito Rangel Jr., que demonstrou terem sido inócuas as medidas tomadas no Rio de Janeiro para sanar o problema.
O artigo está acessível no site do IEEE Xplore.
---------------------------------------------------------------------------
|
|
|